quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Punks da praia.

                            Acervo : Guilherme Ledoux



Tenho tendência a "humanizar" a história porque assim (acho eu) ela fica mais forte.
Quando cheguei na casa do Lucão (de Barros) para gravar a entrevista com o Franck (post anterior)
o Ledu já estava lá digitalizando umas vhs..
Foi então que vi pela primeira vez um registro em vídeo do Trópicos, algo inédito até então (recentemente o Marco – cineasta Martins – achou um video da minha banda e da banda dele tocando no Trópicos, mas ele não vai liberar tão cedo). O "tesouro" que o Ledu tinha em mãos estava guardado a uns 12 anos
e eu nem fazia ideia que ele tivesse um registro tão condizente com as noites no Trópicos como essas imagens que aí estão.
Infelizmente não lembro nada de como foi essa noite, apesar de aparecer no vídeo, muito menos como acabou. Não posso falar muito da banda também.
Lembro que o Ledu e o Batata junto com o Baga tocavam no Rock Pedrero mais ou menos por essa época e que eles infernizavam o ambiente com rocks clássicos tocados com muita gana.

Obrigado Ledu por me aproximar da minha memória.

Você que tá lendo e esteve lá, vai sentir um misto de saudade e excitação, se vc não esteve vai entender um pouco porque essa época foi tão foda!

da esquerda para a direita : Breno, Lucão, Mutley , Franck , eu e Ledoux na noite da entrevista.

            

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sentindo as flexilhas das ervas do chão.



"Voces estao ai falando dos butecos da Bahia. Dai resolvi lembrar dum que tem por aqui. Eh o Tropicos, mais conhecido como bar do Frank ou o bar do som. Eh legal porque o cara tem umas fitinhas boas e alem disso eh soh chegar com uma fita que ele (o Frank) poe pra rolar. Jah aconteceu de eu chegar lah e estar tocando "Hello, I Love You" na versao do Cure. Lah foi tambem a primeira audicao publica da nova demo do Superbug. Tudo isso aa beira da Lagoa da Conceicao, o lugar mais reggae-bicho grilo, mas ainda assim legal, de Floripa.

Outro dia aconteceu uma cena surreal: imagine voce num bar chamado Tropicos, na beira da Lagoa da Conceicao, como cocos pendurados e tudo, tocando "Daydream Nation" do Sonic Youth. Dai chegam umas figuras a cavalo. Parecem ter acabado de chegar de Chapeco ou Sao Lourenco, lah no Oeste de SC. Todo aquele jeito meio gaucho, meio peao boiadeiro. Eles sentam e comecam a tomar uma cerveja. Olham pro resto do pessoal. Estranham. Voces devem imaginar a fauna que esse tipo de som reune. De repente, um  dos cavaleiros comeca a ter um ataque epileptico. Fomos saber por que: eh que uma semana antes, ele teve um acidente de moto no qual morreu o cunhado (marido da irma dele), cujo filho nascera naquele dia. E "Teenage Riot" mandando bala."
 
 *email de Fabio Bianchinni para seus amigos.... Pelo "audição pública da demo do superbug" esse relato deve ser de 1997...mantive o texto do jeito que foi enviado para não perder o romantismo do "achado".

quinta-feira, 29 de março de 2012

pelos olhos do Koostella


Koostella é cartunista e guitarrista de banda grunge. Tem 5 livros de quadrinhos editados e tocou em bandas como Skydivers, Os lopes de Souza e Os Infames.
Para conhecer mais sobre a obra e a vida desse artista sagaz e pinguço vá até :
www.koostella.blogspot.com

terça-feira, 20 de março de 2012

O Velho do olho de vidro.


É impossível falar do Trópicos e contar a história daqueles tempos sem falar dele, seria um erro estúpido. Toda noite ele estava lá no balcão falando com os clientes; muitos conversavam com ele, mas, na verdade, não acredito que alguém entendesse alguma coisa do que ele dizia. Eu, pelo menos, nunca entendi.  Diz o Franck que era possível estabelecer comunicação quando ele estava sóbrio, o que só acontecia durante o dia.    
Nem sei qual era o nome dele, o Franck sabe; tinha um carinho especial por ele, como a foto mostra. Era um pescador da região que tinha adotado o bar para tomar sua cachacinha noturna, igual a todo os outros clientes. 
Mais tarde, quando o Trópicos fechou, levou uns dois meses ou mais até montar o Underground. Nesse meio tempo o velho sumiu. Até que, mais adiante, com as festas já rolando forte, ele apareceu uma noite, para alegria geral!

Logo que pedi ao Franck permissão para fazer o blog, acho que faz uns três meses, ainda perguntei sobre o velho.Tá bem vivo!  Lembro que na época  o cara era forte, e que num simples cumprimento ele quase esmagava tua mão. 
Sem dúvida alguma ele faz parte do folclore do bar!

terça-feira, 6 de março de 2012

Não tá morto quem peleia.

                            Galera na parte de trás do bar

Todo final de semana o cara acabava conhecendo uma banda nova e fazendo amizade também. Aos poucos foi criando-se uma espécie de irmandade, do tipo "Tenho show marcado para daqui a dois finais de semana, tá a fim de tocar com a tua banda?" e vice-versa. E aí o pessoal começou a falar para o povo de fora de Florianópolis e começaram a aparecer bandas de outras partes do Estado para tocar; algumas até já tinham  tocado aqui antes, quando o Café Matisse abrigava guitar bands (era comum os donos do café tirarem os amplificadores da tomada).

Muitas vezes eu não tinha condições de voltar pra casa. Numa dessas, descobri no rancho de pescador que havia ali ao lado um barco espaçoso e "confortável". Então esperava o bar fechar e ia dormir no barco até a bebedeira passar.

Fiz isso várias vezes, algumas bem acompanhado, mas a vez que não sai da memória, foi quando acordei já devia ser umas 2 horas da tarde, e o Franck já estava trabalhando de novo e o movimento era intenso. Claro, o público diurno era outro, bem mais comportado. Quando me viu, ele me deu uma empanada e uma água de coco. Restabelecido, comecei tudo de novo e só voltei pra casa no domingo pra segunda.

Foi aí que me dei conta de como eles trabalhavam tanto. O Trópicos enchia cada vez mais, o Franck e a Andreza  trabalhavam feito uns condenados, por isso muitas vezes eles chamavam parentes para dar conta de tanto cliente doido. Um deles era o Franckito, irmão do Franck. Certa vez, ele me contou que Dona Vera, mãe do Franck e na real a grande responsável por tudo aquilo que estavamos vivendo, entrava em desespero quando via o estado do seu filho chegando exausto depois de mais um dia de trabalho.

Depois disso comecei a reparar o quanto eles ainda mantinham o bom humor e que o Franck sentia vontade de curtir com os amigos, camaradas que éramos nós, seus clientes, e muitas vezes ele fez isso. O problema é que o Franck bêbado era um chato, falava colado ao teu ouvido e te cuspia todo, sempre com discurso punk irredutível.
A Andreza  ficava  só de olho...


Foto: acervo de  Thanira Rates
Colaboração de Fábio Bianchinni

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

- Porra, tua banda é legal pra caralho!

                                         Os Ambervisions


                                           Feedback club


                                         Snowpuppets


                    Malditos ácaros do microcosmos (Curitiba)


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

BAIXO ADIDAS - final


(continuação da parte 1)

Era a mais pura verdade. O carro de Leovegildo* estava trancado por dentro, o baixo em cima do banco do carona, com as três listas brancas chave-de-cadeia. Após a incredulidade, veio o pavor. Afinal, a delegacia da Lagoa ficava a menos de 500 metros. A primeira tentativa foi sacudir o carro para tentar que as listas desmanchassem. Nada. Lembraram, então, da chave reserva, que estava no Centro. Era só conseguir, e rápido, alguém que emprestasse o carro para a missão de resgate. Pede daqui, pede dali, o veículo foi cedido pelo vocalista da banda que se apresentava naquele momento.

Na hora em que partiam, aumentou ainda mais o pavor de nossos heróis: a história foi na mesma noite do post anterior, em que o Franck foi preso. E eles saíram em busca da chave na mesma hora em que a polícia chegava ao bar por causa da reclamação de barulho. Pode ter sido, aliás, a única vez em que um proprietário de bar saiu algemado, mesmo sem oferecer resistência, só por causa de reclamação de som alto.

Ao chegarem no Centro, más notícias: a prima de Leovegildo* havia ido viajar e levara junto a chave reserva do carro. Voltaram para a Lagoa. Quando foram ao carro, a história havia se espalhado entre os presentes, que faziam fila para olhar a curiosa cena, com a maior discrição possível (que não era muita) e saíam dando risada e convocando mais gente para ver aquilo.

Qualquer tentativa de manter em segredo a situação fora por água abaixo, então decidiram chamar de uma vez um chaveiro, ainda mais porque a madrugada já avançara, dali a pouco já seria manhã. Trinta longos minutos depois, apareceu a moto com o profissional salvador. Ainda pediram que ele abrisse o carro pela outra porta, numa vã esperança de que ele não visse o quadro em preto e branco. Inútil. O chaveiro deu uma risadinha e, tentando fingir que não havia notado o que acontecia, comentou:

- Pois é... então o pessoal tava fazendo um som e acabou trancando o carro?
- Bicho, pelamordedeus, só abre a porta.

Abriu. Conformados em que todo mundo tinha visto tudo, Leovegildo* e Antônio* (o baixista estepe), consumiram ali mesmo. Sob aplausos da multidão.





* Os nomes foram alterados porque ninguém aqui é dedo-duro. Também não sejam nos comentários. A história foi enviada por um leitor gente fina; quem tiver alguma e estiver a fim de permanecer anônimo, é só mandar pra detropicosaounderground@gmail.com que a gente até dá uma mexida no texto pra nem o estilo de escrita ser muito reconhecível.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

FREE FRANK, FREE

                                             SKYDIVERS

 O Frank foi preso. Era um show no Trópicos, na época em que eu era baixista do Skydivers. Faz tanto tempo que nem lembro se nossa banda se escrevia assim, tudo junto, ou era Sky Divers, separado. Mas, não importa. Separar ou juntar as palavras não deixava o nome menos brega.

A banda já teve diversos baixistas. Antes de mim havia um cara que tocava tão tenso que as pessoas achavam que seu baixo era uma baioneta e que ele queria furar o olho da rapaziada da primeira fila. Depois de mim entrou outro cara que tocava tão soft que a banda ficou cheia de músicas felizes. Mas isso é minha opinião pessoal, talvez minha época nem foi tão boa assim quanto eu imagino, afinal, quando eu saí da banda foi por ter um surto de síndrome de pânico horrível que não me permitia nem ir mais aos ensaios na Blue House, casa dos Skydivers na Carvoeira.

Bom, o que eu queria falar mesmo, era sobre a prisão do Frank num show que fizemos no Trópicos, nosso segundo lar, nossa sala de estar. A casa estava cheia, estávamos bem ensaiados, éramos a segunda banda da noite. Abrimos com a música Breathe, do Prodigy, e depois continuamos com músicas próprias. Na bateria, Cachorro mandava suas viradas típicas com o prato em atraso em espetaculares falsas quebras de tempo, Druba gritava no microfone “My friends are vampires!!!”, Marco aumentava o volume de sua guitarra a cada dez segundos numa competição imaginária enquanto eu tocava com palheta e tentava afastar os Cafonas no canto direito do palco. O tempo estava passando, nosso repertório era imenso, quase duas horas, porém, depois de quinze minutos tocando, Leopoldo, o baixista dos Cafonas já fazia sinal de que deveríamos acabar logo nossa apresentação porque talvez a polícia chegasse e botasse todo mundo pra correr, fazendo os Cafonas não terem tempo para seu show. Não me lembro qual era a tensão, talvez o alvará do Frank estava fodido... ou a polícia já tinha dado algum ultimato na barulheira por causa dos vizinhos... não sei. Só lembro que os Cafonas estavam na minha frente, com seus instrumentos engatilhados. Vieram lá do fim do inferno só para tocar e nós os agoniávamos. E eles a mim. Eu só dizia: “Péra só mais um pouquinho, acabamos de entrar.”

O Frank lá na frente vendia cerveja adoidado, caipirinha, Fogo Paulista... Até que a Civil chegou. Entraram de colete preto e mandaram parar tudo. Nós só paramos depois que acabou a música. Não iríamos parar no meio, né. Aí o Druba já saiu provocando, ficou dizendo no microfone: “Ai, noooofa, os Coletinhos Pretos acabaram de chegaaaarrr... Tenho medo dos Coletinhos pretos que vieram me prendeeeerrr... Me prende, seu Coletinho, me prende...” O clima no bar ficou tenso. Cachorro tirou o microfone do Druba e o Frank foi intimado a entrar no camburão, mas se recusou: “Eu sei onde fica a delegacia, eu já vou lá.” A polícia foi embora, o Frank se arrumou, deu um beijo na Andreza, e foi se apresentar. Recolhemos nossos instrumentos, o som acabou, virei o inimigo numero um dos Cafonas e decidi ir com meu irmão, Kabessa, e mais um monte de amigos, à delegacia, que ficava na Lagoa atrás do antigo correio. Da porta da delegacia dava pra ver o pobre Frank preso, sentado em uma cadeira, prestando depoimento. Nós nos aglomeramos ali na frente e ficamos gritando “ Free, Frank, free! Free, Frank, free! Free, Frank, free!” até um dos policiais se encher e nos mandar cair fora.

O Frank voltou e a alegria não veio junto. Mais uma vez o bar corria risco de fechar. A Lagoa da Conceição não estava preparada para um bar de rock. A vizinhança reacionária queria escolher que tipo de música se deve tocar nas redondezas. O rock parecia ameaçar suas vidas ridículas e o Frank tinha que pagar o pato. Que merda.

Escrito por Koostella
www.koostella.blogspot.com


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

BAIXO ADIDAS (parte 1)

Custou, mas finalmente tava tudo bem para o Leovegildo*. O show da banda dele no Trópicos (era começo de 1998, época do Carnaval) quase tinha sido desmarcado porque o baixista e o baterista tinham ido viajar, mas ele e Raul*, o outro guitarrista, acharam substitutos que toparam ensaiar a tempo. Antônio*, o baixista-estepe não tinha instrumento, mas eles descolaram um emprestado, todo preto com o escudo branco.

No dia do show, mais um monte de contratempos, inclusive briga com a namorada, mas acabou dando tudo certo. O show da banda dele, Apocalípticos Integrados*, rolou legal e os ânimos com a digníssima estavam acalmados. Tudo estava tão bem que, quando foram guardar os instrumentos no carro, estacionado ali perto, confraternizaram com algumas muralhas brancas. Esticaram nas costas do baixo, como se fosse uma pizza saindo do forno. Afinal de contas, aqueles eram os loucos anos 90.

Voltaram para o bar e foram interpelados pela banda que tocaria logo depois: “escuta, a gente viu que vocês têm um violão. Tem uma música nossa que fica mais legal no violão, como a gente gravou. Rola de emprestar?”, pediram. Claro que rolava. Leovegildo* emprestou a chave do carro para que Raul*, seu companheiro de banda, fosse buscar o violão e foi juntar-se à namorada para curtir a noite.

Quando terminou o show, Raul* pediu novamente a chave do carro, dessa vez para guardar o violão, Leovegildo* emprestou. Após uma espera mais longa do que o desejável, Peu*, o baterista-estepe daquela noite, chegou com más notícias.

- Deu merda .
- Como assim?
- Trancamos o carro com a chave dentro.

Puta que pariu. Leovegildo* pensou em todos os instrumentos e amplificadores guardados lá dentro, na encheção de saco que seria e em que diabos iriam fazer agora.

- E isso não é o pior.
- Como assim, não é o pior?
- Vem aqui ver.

Foram. Quando chegaram no carro, estacionado bem debaixo de um poste de iluminação, lá estava o baixo bem visível, deitado de costas para cima no banco do carona. Contra o corpo preto, como se fosse um anúncio surreal da Adidas, três listas brancas. Listas do tipo mais chave-de-cadeia.

- Tá, pessoal, tudo bem, se era pegadinha, funcionou. Tô encagaçado aqui.

Não era.

(continua)

* Os nomes foram alterados porque ninguém aqui é dedo-duro. Também não sejam nos comentários. A história foi enviada por um leitor gente fina; quem tiver alguma e estiver a fim de compartilhar e permanecer anônimo, é só mandar pra detropicosaounderground@gmail.com

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

PORRADARIA E OS EGÍPCIOS

                                         Trópicos lotado.

É claro que uma vez ou outra, ainda inventávamos de ir para o boulevard ao invés de cair direto no Trópicos. Foi assim naquela ocasião. Aí, quando chegamos lá, a confusão já estava feita. O Dogo, baterista do Salt Slake, veio me avisar: "te liga que saiu briga". Tudo começou quando alguém xingou a namorada de alguém, a moça xingou de volta, o alguém chutou e fez-se a porradaria.

A namorada e o tal do alguém não eram da rapaziada do bar, mas estavam com uma turma por lá, então juntaram pra bater no alguém dos nossos. O povo juntou pra defender, a coisa cresceu e os visitantes bateram em fulano, cicrano, beltrano e mais uma raça. Parece confuso, né? Mas era isso, basicamente o que eu tinha de informação já naquele momento, não é nem uma questão de memória. Precisava encontrar alguém que tivesse visto a coisa de perto e pudesse me contar.

Foi quando encontrei o Domingos com os dois olhos roxos. "Puta merda, deve ter apanhado pacas", pensei. Bom, mas pelo menos saberia me dizer direitinho o que aconteceu. Qual foi a dessa briga, afinal? "Sei lá. Na hora da confusão eu tava no banheiro pintando o olho".

Anos mais tarde, ele veio me contar que, naquela semana, tinha lido algo sobre os egípcios da antiguidade pintarem os olhos para afastar os maus espíritos. Parece que funcionou.




escrito por Fábio Bianchini

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SuperFuzz: noite de estreia 01/03/1997



Estava errado no outro post: o primeiro show foi agendado para o dia 22 de fevereiro, um sábado.

Foi assim: uma bela noite, chegamos mais cedo no bar e lá estava o Franck, todo suado, mas com a obra recém terminada e construída por ele mesmo: um prolongamento de madeira, coberto, que serviria de palco para as bandas. Para quem queria "só um cantinho onde pudéssemos fazer um negócio discreto", era um presentaço. Conversa daqui e dali, marcamos logo o show para aquela semana mesmo ou a seguinte, coisa assim: Salt Slake, Superbug e Sleepwalkers.

Quando chegou a grande noite, estávamos todos pimpões feito estrelas de Hollywood em noite de estreia. Não tinha tapete vermelho, mas tinha o visual da Lagoa e um monte de guitarras e amplificadores. Tínhamos também mais uma surpresa: não havia como cobrar ingresso, já que o bar era aberto, então a ideia era tocar só pela alegria mesmo, todos tínhamos concordado e ninguém sequer pensou em cachê. Franck achou pouco e fez questão de colocar um engradado de cerveja pras bandas. A divisão ficou ainda mais mole para o nosso lado porque os Sleepwalkers não bebiam. Ou seja, não faltava nada, né?

Quase nada. Faltou luz. Não só ali; todo o centrinho da Lagoa ficou às escuras por sei lá quanto tempo. Mas foi tempo o suficiente para esperarmos um pouco e ver se a energia voltava rápido, para o pessoal começar a ir embora e para desistirmos e adiarmos por uma semana o primeiro show. Ficou para o sábado seguinte, dia 1º de março.

Chegamos cedo para montar a aparelhagem, ficou decidido que a minha banda, o Salt Slake (escrito assim errado mesmo), abriria a noite. Depois viria o Superbug e, pra fechar, o Sleepwalkers. Rachamos as cervas entre as duas bandas e oferecemos pros amigos. O bar estava cheio , mas não lotado.
 Salt Slake: Eu , Marco Martins, Gustavo Dogo e Karina "Kim" Cizeski (fotos:Thanira Rates e Daniela Bianchini)

O nome Salt Slake foi tirado de um livro do Jack London. Ensaiávamos no restaurante do pai do Dogo e antes desse show só tinhamos tocado duas vezes na Ponta das Canas (no Norte da Ilha), com o seu Deja (pai do Dogo) levando toda aparelhagem, a banda e mais as namoradas na carroceria da Fiorino. Éramos uma banda tacanha, naquela época só a Kim tocava bem. Tocamos nossas músicas mais um cover de Sonic Youth, “Youth Against Fascism”, e "Trans Am", do Neil Young , a única que eu cantava.

Apesar de ter sido há muito tempo, lembro que o bar tava num astral excelente, pelo menos para mim, que tava tocando com duas das minhas bandas favoritas da cidade. Eu era um fã declarado das bandas da noite.
Superbug (Fábio "mutley" Bianchini, Rodrigo Alves, André e Diógenes Fischer (Fotos: Daniela Bianchini)


O Superbug tinha ajudado a salvar minha vida alguns anos antes. Em 94 fui “convidado a me retirar” do I.E.E e consequentemente de casa, fui para o “exílio” em Caxias do Sul, chegando lá o Bukowski morre, logo depois o Cobain se mata, não foi uma época boa...

Então que o Mutley me envia pelo correio a primeira demo do Superbug “take yer horse off the rain”. Cara, aquela fitinha trouxe tanto conforto! Tinha uma música “Tangerine Limousine” que me fazia pular dentro de casa. Fui salvo por aquelas músicas no forte inverno longe dos amigos! Sou grato até hoje ao Mutley por isso.

No show daquela noite no Trópicos eu já sabia cantar várias músicas dos caras, fiquei eufórico just like heaven total! Não tenho certeza, mas se não me engano eles fizeram uma versão demolidora de "Cum on Feel the Noise" do Slade.

Então veio o Sleepwalkers, melodias fofas e guitarra esporrenta. Acho que nessa época eles já tinham duas demos, nessa noite eles tocaram "In the Mouth a Desert" do Pavement! Alíás a Sabrina, baixista da banda, tinha mandado uma demo pros caras do pavement, e os caras responderam!! Mandaram um postal pra ela, elogiando o som. Era a banda favorita dela, certamente uma influência e os caras mandam um postal dizendo “Hey , grande estilo, boa música” deve ser o máximo que uma banda sem pretensão de sucesso pode querer.

Infelizmente, não tenho nenhum registro deles nessa noite e não lembro grandes detalhes do show. Só sei que foi ali o pontapé inicial para a “grande confraternização” que iria se tornar o bar do Franck. Bandas de Blumenau e Joinville começariam a vir tocar aqui com mais freqüência, tinhamos os mesmos gostos pela música, e estávamos nessa pela diversão, não existia cena, nunca forçamos a barra, era só um punhado de bandas que gostavam das mesmas coisas. E agora que o Franck tinha aberto espaço para nós, tudo ficaria mais intenso.Logo o bar começaria a lotar absurdamente e novas amizades seriam feitas. A vida tava boa pacas.

Texto de Fábio Bianchini e Domingos Longo

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O BAR DO VINHO: "o estilo do bar é esse"



- Vamos ali no bar do vinho?
- Bar do vinho? Onde é isso?
- É um que abriu há pouco tempo, rola um som legal. Fica ali uns 300 metros depois do boulevard.

Desconfiei do convite. O “som legal” a que o Nico se referia podia ser, de fato, um som dos mais legais, mas também podia ser sei lá o que ele estivesse escutando no momento. E esses bares mais afastados (300 metros era um longo afastamento na época em que a movimentação da Lagoa se concentrava MESMO no boulevard) quase sempre não davam nada.

Por outro lado, naquela noite a ação ali no boulevard não estava sendo das mais favoráveis para o nosso lado, nem no quesito musical, nem no feminino, nem, francamente, na diversão. OK, vamos no bar do vinho. Não lembro quem mais estava junto, mas devíamos estar em uns quatro ou cinco.

Quando chegamos lá, o Nico pediu uma cerveja (para meu alívio, confesso), sentamos numa mesinha e ficamos batendo papo. Tocava Pixies. Primeiro o Doolittle, depois o Bossanova. É claro que isso fez uma baita diferença (isso era 1996; não era fácil achar um lugar com um som de que gostássemos. Além de ser mais difícil, éramos todos mais chatos e pentelhos com isso) e acabamos ficando por lá a noite inteira. Voltamos mais algumas vezes depois.

Numa dessas voltas, descobri que boa parte do pessoal que tinha se dispersado com o fim da Casa do Rock, dois ou três anos antes, havia também descoberto o bar e se reagrupado ali. Acabou virando o lugar pra ir direto, sem nem olhar o que tinha nos outros. Com o tempo, fizemos amizade com o Franck e a Andreza e criamos confiança pra pedir que tocassem as fitinhas que levávamos.

Certa vez, a noite não estava das melhores: éramos três na única mesa ocupada. Mesmo assim compensava, porque estava tocando Echo and the Bunnymen (minha fitinha do Ocean Rain) e Sonic Youth. De repente, parecia que a noite do Franck estava salva: chegaram umas vinte pessoas duma vez só, vários casais interessados em se formar, aquela coisa com clima, animação e tal. Ocuparam quase toda a área de trás, mais perto da Lagoa.

Depois de uns dois minutos, enquanto chegava a primeira cerveja que tinham chamado, pediram que o Franck trocasse a música.
- Um sambinha, alguma coisa mais animada, sabe como é.
- Não, sinto muito. A música do bar é essa, o estilo do bar é esse.
- Mas estamos só nós aqui.
- Não, tem o pessoal naquela outra mesa. E mesmo que não estivessem, é esse o som que toca aqui.
- Tudo bem, a gente respeita, claro. Mas é que pô, numa boa, se continuar esse som a gente vai sair. Olha quanta cerveja vocês vão deixar de vender.
- Paciência. Se quiserem ficar, são bem-vindos, mas a música continua.

Continuou. E a turma, de fato, foi toda embora. Nós? Continuamos freqüentando. E éramos cada vez mais. Até que começamos a ter uma ideia. Quem sabe se, numa dessas, de repente, ali no cantinho, discretamente, talvez só acústico, rolasse de tocar uma banda? Será que dava?
(escrito por Fábio Bianchini)


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O barulho vai começar.

                                 Vista do palco do Trópicos



             A cada fim de semana a relação entre os donos e os clientes só se fortalecia. Todo mundo chamava o Franck e a Andreza pelo nome e eles também chamavam pelo nome os mais assíduos. Eu mesmo já estava sendo um folgado: quando eles estavam muito ocupados eu entrava no bar e servia minha dose, só dizia para Andreza anotar.
            Muitas vezes, quando doido, dizia “nunca mais volto nesse bar” e saia fora, o motivo? O Franck não quis colocar a fita que eu pedi. Até hoje lembro do Franck rindo da minha cara.
             Nessa época a ilha pipocava de “guitar bands” e não tínhamos um lugar para tocar. Então o Franck construiu um palco com as próprias mãos. Uma noite chego no bar e o palco está lá, de frente para a lagoa! Ele me disse: — Pronto, construí o palco, agora para de me encher o saco.
           O primeiro show foi marcado para o dia 31 de março de 1997. As bandas seriam Salt lake, Superbug e Sleepwalkers. No dia do show deu um blecaute na Lagoa e o show foi cancelado.



sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Aumenta Franck!



              Embora eu tenha passado a semana inteira falando da "descoberta" para os amigos, não fui eu quem descobriu o bar, posso ter difundido bastante, mas os irmãos Lopes de Souza tinham chegado antes...Me disse certa vez o Franck que possivelmente os primeiros clientes tinham sido o Kostella e o Kabeça.
               Na sexta -feira seguinte voltei ao bar e não liguei pra ninguem; botei uma fitinha do dinosaur jr no bolso e fui sozinho. Cheguei lá e pedi pro Franck se rolava por a fita pra tocar, ele disse que sim. Bom tempo depois eu fui descobrir que ele não curtia muito Dinosaur ("tem muitos solos", ele disse), aos poucos fui percebendo que ali batia um coração gótico: Cure, Bauhaus, Sisters of Mercy, Joy Division. Tava ótimo, não tinha o que reclamar!
           Era cedo, sentei no balcão de novo, pedi uma cerveja (mentira, não lembro se era cerveja) e fiquei conversando com eles. A Andreza, mulher do Franck era extremamente calada, mas transmitia simpatia por trás daquele silêncio, de vez em quando aparecia alguma familia e pedia água de coco, então a conversa era interropida para que o Franck puxasse o seu facão e fosse até um canto do bar para cortar os cocos.
     Lembro que o último ônibus que ia do Centro para Barra da Lagoa saía à meia-noite do terminal e passava na frente do bar ali pela meia noite e meia. Nesse dia eu tava costas para a rua quando ouvi um "olha quem já tá ali". Os amigos tinham vindo em peso! Acho que desde o começo, quando a galera já tava bebâda e tocava uma música de que todos gostavam, era comum ouvir um "aumenta, Franck!". E o Franck deixava o disco todo tocar, não tinha essa de seleção de músicas e tal, vamos ouvir o the queen is dead? então vamos ouvir ele todo, essa era uma grande qualidade do cara.






(colaborou Fábio "mutley" Bianchini)




quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Trópicos – Sucos & Cocktails.

  Franck & Andreza! Por uma vida menos ordinária.


              Verão de 1997, fui com mais 3 amigos até o boulervard na Lagoa da Conceição, era lá que se concetrava a muvuca. Não gostava, a música não era legal, e não tinha aonde ir. Meus amigos sempre se davam bem com as garotas e eu sempre me fudia, e além do mais, eu era praticamente um forasteiro na gangue deles. Claro que naquela noite não seria diferente...
          Então resolvi dar uma volta, fui em direção até a ponte que liga aquela área à Avenida das Rendeiras, quando estou passando em frente a um bar com vários cocos pendurados na fachada, escuto uma música familiar, era Bela lugosi is dead do Bauhaus! Diminui o passo pra ter certeza que o som vinha dali e veio a confirmação: O som realmente vinha daquela cabana natureba na beira da lagoa!
Continuei  meu destino, fui até o fim pensando que deveria entrar no bar e pedir uma bebida. Foi o que eu fiz. Sentei no "balcão" e pedi um uisque. Depois de um tempo puxei assunto, mas a converssa era bastante tímida. Descobri que o bar existia há uns dois anos. Então o Franck trocou a fita cassete, naquela época o 3 em 1 dele não tinha cd, só fita cassete. O cara botou pra tocar Histórias de sexo e violência do Replicantes. Acabei meu uisque e fui procurar meus amigos, seria muita sacanagem conhecer o local perfeito e não dividir. Encontrei um que depois avisou o resto. Voltei pro bar pedi mais um uisque e algum tempo depois eles apareceram. Ficamos até o amanhecer! Mal sabíamos que seria assim nos próximos 3 anos...