terça-feira, 31 de janeiro de 2012

PORRADARIA E OS EGÍPCIOS

                                         Trópicos lotado.

É claro que uma vez ou outra, ainda inventávamos de ir para o boulevard ao invés de cair direto no Trópicos. Foi assim naquela ocasião. Aí, quando chegamos lá, a confusão já estava feita. O Dogo, baterista do Salt Slake, veio me avisar: "te liga que saiu briga". Tudo começou quando alguém xingou a namorada de alguém, a moça xingou de volta, o alguém chutou e fez-se a porradaria.

A namorada e o tal do alguém não eram da rapaziada do bar, mas estavam com uma turma por lá, então juntaram pra bater no alguém dos nossos. O povo juntou pra defender, a coisa cresceu e os visitantes bateram em fulano, cicrano, beltrano e mais uma raça. Parece confuso, né? Mas era isso, basicamente o que eu tinha de informação já naquele momento, não é nem uma questão de memória. Precisava encontrar alguém que tivesse visto a coisa de perto e pudesse me contar.

Foi quando encontrei o Domingos com os dois olhos roxos. "Puta merda, deve ter apanhado pacas", pensei. Bom, mas pelo menos saberia me dizer direitinho o que aconteceu. Qual foi a dessa briga, afinal? "Sei lá. Na hora da confusão eu tava no banheiro pintando o olho".

Anos mais tarde, ele veio me contar que, naquela semana, tinha lido algo sobre os egípcios da antiguidade pintarem os olhos para afastar os maus espíritos. Parece que funcionou.




escrito por Fábio Bianchini

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SuperFuzz: noite de estreia 01/03/1997



Estava errado no outro post: o primeiro show foi agendado para o dia 22 de fevereiro, um sábado.

Foi assim: uma bela noite, chegamos mais cedo no bar e lá estava o Franck, todo suado, mas com a obra recém terminada e construída por ele mesmo: um prolongamento de madeira, coberto, que serviria de palco para as bandas. Para quem queria "só um cantinho onde pudéssemos fazer um negócio discreto", era um presentaço. Conversa daqui e dali, marcamos logo o show para aquela semana mesmo ou a seguinte, coisa assim: Salt Slake, Superbug e Sleepwalkers.

Quando chegou a grande noite, estávamos todos pimpões feito estrelas de Hollywood em noite de estreia. Não tinha tapete vermelho, mas tinha o visual da Lagoa e um monte de guitarras e amplificadores. Tínhamos também mais uma surpresa: não havia como cobrar ingresso, já que o bar era aberto, então a ideia era tocar só pela alegria mesmo, todos tínhamos concordado e ninguém sequer pensou em cachê. Franck achou pouco e fez questão de colocar um engradado de cerveja pras bandas. A divisão ficou ainda mais mole para o nosso lado porque os Sleepwalkers não bebiam. Ou seja, não faltava nada, né?

Quase nada. Faltou luz. Não só ali; todo o centrinho da Lagoa ficou às escuras por sei lá quanto tempo. Mas foi tempo o suficiente para esperarmos um pouco e ver se a energia voltava rápido, para o pessoal começar a ir embora e para desistirmos e adiarmos por uma semana o primeiro show. Ficou para o sábado seguinte, dia 1º de março.

Chegamos cedo para montar a aparelhagem, ficou decidido que a minha banda, o Salt Slake (escrito assim errado mesmo), abriria a noite. Depois viria o Superbug e, pra fechar, o Sleepwalkers. Rachamos as cervas entre as duas bandas e oferecemos pros amigos. O bar estava cheio , mas não lotado.
 Salt Slake: Eu , Marco Martins, Gustavo Dogo e Karina "Kim" Cizeski (fotos:Thanira Rates e Daniela Bianchini)

O nome Salt Slake foi tirado de um livro do Jack London. Ensaiávamos no restaurante do pai do Dogo e antes desse show só tinhamos tocado duas vezes na Ponta das Canas (no Norte da Ilha), com o seu Deja (pai do Dogo) levando toda aparelhagem, a banda e mais as namoradas na carroceria da Fiorino. Éramos uma banda tacanha, naquela época só a Kim tocava bem. Tocamos nossas músicas mais um cover de Sonic Youth, “Youth Against Fascism”, e "Trans Am", do Neil Young , a única que eu cantava.

Apesar de ter sido há muito tempo, lembro que o bar tava num astral excelente, pelo menos para mim, que tava tocando com duas das minhas bandas favoritas da cidade. Eu era um fã declarado das bandas da noite.
Superbug (Fábio "mutley" Bianchini, Rodrigo Alves, André e Diógenes Fischer (Fotos: Daniela Bianchini)


O Superbug tinha ajudado a salvar minha vida alguns anos antes. Em 94 fui “convidado a me retirar” do I.E.E e consequentemente de casa, fui para o “exílio” em Caxias do Sul, chegando lá o Bukowski morre, logo depois o Cobain se mata, não foi uma época boa...

Então que o Mutley me envia pelo correio a primeira demo do Superbug “take yer horse off the rain”. Cara, aquela fitinha trouxe tanto conforto! Tinha uma música “Tangerine Limousine” que me fazia pular dentro de casa. Fui salvo por aquelas músicas no forte inverno longe dos amigos! Sou grato até hoje ao Mutley por isso.

No show daquela noite no Trópicos eu já sabia cantar várias músicas dos caras, fiquei eufórico just like heaven total! Não tenho certeza, mas se não me engano eles fizeram uma versão demolidora de "Cum on Feel the Noise" do Slade.

Então veio o Sleepwalkers, melodias fofas e guitarra esporrenta. Acho que nessa época eles já tinham duas demos, nessa noite eles tocaram "In the Mouth a Desert" do Pavement! Alíás a Sabrina, baixista da banda, tinha mandado uma demo pros caras do pavement, e os caras responderam!! Mandaram um postal pra ela, elogiando o som. Era a banda favorita dela, certamente uma influência e os caras mandam um postal dizendo “Hey , grande estilo, boa música” deve ser o máximo que uma banda sem pretensão de sucesso pode querer.

Infelizmente, não tenho nenhum registro deles nessa noite e não lembro grandes detalhes do show. Só sei que foi ali o pontapé inicial para a “grande confraternização” que iria se tornar o bar do Franck. Bandas de Blumenau e Joinville começariam a vir tocar aqui com mais freqüência, tinhamos os mesmos gostos pela música, e estávamos nessa pela diversão, não existia cena, nunca forçamos a barra, era só um punhado de bandas que gostavam das mesmas coisas. E agora que o Franck tinha aberto espaço para nós, tudo ficaria mais intenso.Logo o bar começaria a lotar absurdamente e novas amizades seriam feitas. A vida tava boa pacas.

Texto de Fábio Bianchini e Domingos Longo

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O BAR DO VINHO: "o estilo do bar é esse"



- Vamos ali no bar do vinho?
- Bar do vinho? Onde é isso?
- É um que abriu há pouco tempo, rola um som legal. Fica ali uns 300 metros depois do boulevard.

Desconfiei do convite. O “som legal” a que o Nico se referia podia ser, de fato, um som dos mais legais, mas também podia ser sei lá o que ele estivesse escutando no momento. E esses bares mais afastados (300 metros era um longo afastamento na época em que a movimentação da Lagoa se concentrava MESMO no boulevard) quase sempre não davam nada.

Por outro lado, naquela noite a ação ali no boulevard não estava sendo das mais favoráveis para o nosso lado, nem no quesito musical, nem no feminino, nem, francamente, na diversão. OK, vamos no bar do vinho. Não lembro quem mais estava junto, mas devíamos estar em uns quatro ou cinco.

Quando chegamos lá, o Nico pediu uma cerveja (para meu alívio, confesso), sentamos numa mesinha e ficamos batendo papo. Tocava Pixies. Primeiro o Doolittle, depois o Bossanova. É claro que isso fez uma baita diferença (isso era 1996; não era fácil achar um lugar com um som de que gostássemos. Além de ser mais difícil, éramos todos mais chatos e pentelhos com isso) e acabamos ficando por lá a noite inteira. Voltamos mais algumas vezes depois.

Numa dessas voltas, descobri que boa parte do pessoal que tinha se dispersado com o fim da Casa do Rock, dois ou três anos antes, havia também descoberto o bar e se reagrupado ali. Acabou virando o lugar pra ir direto, sem nem olhar o que tinha nos outros. Com o tempo, fizemos amizade com o Franck e a Andreza e criamos confiança pra pedir que tocassem as fitinhas que levávamos.

Certa vez, a noite não estava das melhores: éramos três na única mesa ocupada. Mesmo assim compensava, porque estava tocando Echo and the Bunnymen (minha fitinha do Ocean Rain) e Sonic Youth. De repente, parecia que a noite do Franck estava salva: chegaram umas vinte pessoas duma vez só, vários casais interessados em se formar, aquela coisa com clima, animação e tal. Ocuparam quase toda a área de trás, mais perto da Lagoa.

Depois de uns dois minutos, enquanto chegava a primeira cerveja que tinham chamado, pediram que o Franck trocasse a música.
- Um sambinha, alguma coisa mais animada, sabe como é.
- Não, sinto muito. A música do bar é essa, o estilo do bar é esse.
- Mas estamos só nós aqui.
- Não, tem o pessoal naquela outra mesa. E mesmo que não estivessem, é esse o som que toca aqui.
- Tudo bem, a gente respeita, claro. Mas é que pô, numa boa, se continuar esse som a gente vai sair. Olha quanta cerveja vocês vão deixar de vender.
- Paciência. Se quiserem ficar, são bem-vindos, mas a música continua.

Continuou. E a turma, de fato, foi toda embora. Nós? Continuamos freqüentando. E éramos cada vez mais. Até que começamos a ter uma ideia. Quem sabe se, numa dessas, de repente, ali no cantinho, discretamente, talvez só acústico, rolasse de tocar uma banda? Será que dava?
(escrito por Fábio Bianchini)


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O barulho vai começar.

                                 Vista do palco do Trópicos



             A cada fim de semana a relação entre os donos e os clientes só se fortalecia. Todo mundo chamava o Franck e a Andreza pelo nome e eles também chamavam pelo nome os mais assíduos. Eu mesmo já estava sendo um folgado: quando eles estavam muito ocupados eu entrava no bar e servia minha dose, só dizia para Andreza anotar.
            Muitas vezes, quando doido, dizia “nunca mais volto nesse bar” e saia fora, o motivo? O Franck não quis colocar a fita que eu pedi. Até hoje lembro do Franck rindo da minha cara.
             Nessa época a ilha pipocava de “guitar bands” e não tínhamos um lugar para tocar. Então o Franck construiu um palco com as próprias mãos. Uma noite chego no bar e o palco está lá, de frente para a lagoa! Ele me disse: — Pronto, construí o palco, agora para de me encher o saco.
           O primeiro show foi marcado para o dia 31 de março de 1997. As bandas seriam Salt lake, Superbug e Sleepwalkers. No dia do show deu um blecaute na Lagoa e o show foi cancelado.



sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Aumenta Franck!



              Embora eu tenha passado a semana inteira falando da "descoberta" para os amigos, não fui eu quem descobriu o bar, posso ter difundido bastante, mas os irmãos Lopes de Souza tinham chegado antes...Me disse certa vez o Franck que possivelmente os primeiros clientes tinham sido o Kostella e o Kabeça.
               Na sexta -feira seguinte voltei ao bar e não liguei pra ninguem; botei uma fitinha do dinosaur jr no bolso e fui sozinho. Cheguei lá e pedi pro Franck se rolava por a fita pra tocar, ele disse que sim. Bom tempo depois eu fui descobrir que ele não curtia muito Dinosaur ("tem muitos solos", ele disse), aos poucos fui percebendo que ali batia um coração gótico: Cure, Bauhaus, Sisters of Mercy, Joy Division. Tava ótimo, não tinha o que reclamar!
           Era cedo, sentei no balcão de novo, pedi uma cerveja (mentira, não lembro se era cerveja) e fiquei conversando com eles. A Andreza, mulher do Franck era extremamente calada, mas transmitia simpatia por trás daquele silêncio, de vez em quando aparecia alguma familia e pedia água de coco, então a conversa era interropida para que o Franck puxasse o seu facão e fosse até um canto do bar para cortar os cocos.
     Lembro que o último ônibus que ia do Centro para Barra da Lagoa saía à meia-noite do terminal e passava na frente do bar ali pela meia noite e meia. Nesse dia eu tava costas para a rua quando ouvi um "olha quem já tá ali". Os amigos tinham vindo em peso! Acho que desde o começo, quando a galera já tava bebâda e tocava uma música de que todos gostavam, era comum ouvir um "aumenta, Franck!". E o Franck deixava o disco todo tocar, não tinha essa de seleção de músicas e tal, vamos ouvir o the queen is dead? então vamos ouvir ele todo, essa era uma grande qualidade do cara.






(colaborou Fábio "mutley" Bianchini)




quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Trópicos – Sucos & Cocktails.

  Franck & Andreza! Por uma vida menos ordinária.


              Verão de 1997, fui com mais 3 amigos até o boulervard na Lagoa da Conceição, era lá que se concetrava a muvuca. Não gostava, a música não era legal, e não tinha aonde ir. Meus amigos sempre se davam bem com as garotas e eu sempre me fudia, e além do mais, eu era praticamente um forasteiro na gangue deles. Claro que naquela noite não seria diferente...
          Então resolvi dar uma volta, fui em direção até a ponte que liga aquela área à Avenida das Rendeiras, quando estou passando em frente a um bar com vários cocos pendurados na fachada, escuto uma música familiar, era Bela lugosi is dead do Bauhaus! Diminui o passo pra ter certeza que o som vinha dali e veio a confirmação: O som realmente vinha daquela cabana natureba na beira da lagoa!
Continuei  meu destino, fui até o fim pensando que deveria entrar no bar e pedir uma bebida. Foi o que eu fiz. Sentei no "balcão" e pedi um uisque. Depois de um tempo puxei assunto, mas a converssa era bastante tímida. Descobri que o bar existia há uns dois anos. Então o Franck trocou a fita cassete, naquela época o 3 em 1 dele não tinha cd, só fita cassete. O cara botou pra tocar Histórias de sexo e violência do Replicantes. Acabei meu uisque e fui procurar meus amigos, seria muita sacanagem conhecer o local perfeito e não dividir. Encontrei um que depois avisou o resto. Voltei pro bar pedi mais um uisque e algum tempo depois eles apareceram. Ficamos até o amanhecer! Mal sabíamos que seria assim nos próximos 3 anos...