quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

- Porra, tua banda é legal pra caralho!

                                         Os Ambervisions


                                           Feedback club


                                         Snowpuppets


                    Malditos ácaros do microcosmos (Curitiba)


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

BAIXO ADIDAS - final


(continuação da parte 1)

Era a mais pura verdade. O carro de Leovegildo* estava trancado por dentro, o baixo em cima do banco do carona, com as três listas brancas chave-de-cadeia. Após a incredulidade, veio o pavor. Afinal, a delegacia da Lagoa ficava a menos de 500 metros. A primeira tentativa foi sacudir o carro para tentar que as listas desmanchassem. Nada. Lembraram, então, da chave reserva, que estava no Centro. Era só conseguir, e rápido, alguém que emprestasse o carro para a missão de resgate. Pede daqui, pede dali, o veículo foi cedido pelo vocalista da banda que se apresentava naquele momento.

Na hora em que partiam, aumentou ainda mais o pavor de nossos heróis: a história foi na mesma noite do post anterior, em que o Franck foi preso. E eles saíram em busca da chave na mesma hora em que a polícia chegava ao bar por causa da reclamação de barulho. Pode ter sido, aliás, a única vez em que um proprietário de bar saiu algemado, mesmo sem oferecer resistência, só por causa de reclamação de som alto.

Ao chegarem no Centro, más notícias: a prima de Leovegildo* havia ido viajar e levara junto a chave reserva do carro. Voltaram para a Lagoa. Quando foram ao carro, a história havia se espalhado entre os presentes, que faziam fila para olhar a curiosa cena, com a maior discrição possível (que não era muita) e saíam dando risada e convocando mais gente para ver aquilo.

Qualquer tentativa de manter em segredo a situação fora por água abaixo, então decidiram chamar de uma vez um chaveiro, ainda mais porque a madrugada já avançara, dali a pouco já seria manhã. Trinta longos minutos depois, apareceu a moto com o profissional salvador. Ainda pediram que ele abrisse o carro pela outra porta, numa vã esperança de que ele não visse o quadro em preto e branco. Inútil. O chaveiro deu uma risadinha e, tentando fingir que não havia notado o que acontecia, comentou:

- Pois é... então o pessoal tava fazendo um som e acabou trancando o carro?
- Bicho, pelamordedeus, só abre a porta.

Abriu. Conformados em que todo mundo tinha visto tudo, Leovegildo* e Antônio* (o baixista estepe), consumiram ali mesmo. Sob aplausos da multidão.





* Os nomes foram alterados porque ninguém aqui é dedo-duro. Também não sejam nos comentários. A história foi enviada por um leitor gente fina; quem tiver alguma e estiver a fim de permanecer anônimo, é só mandar pra detropicosaounderground@gmail.com que a gente até dá uma mexida no texto pra nem o estilo de escrita ser muito reconhecível.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

FREE FRANK, FREE

                                             SKYDIVERS

 O Frank foi preso. Era um show no Trópicos, na época em que eu era baixista do Skydivers. Faz tanto tempo que nem lembro se nossa banda se escrevia assim, tudo junto, ou era Sky Divers, separado. Mas, não importa. Separar ou juntar as palavras não deixava o nome menos brega.

A banda já teve diversos baixistas. Antes de mim havia um cara que tocava tão tenso que as pessoas achavam que seu baixo era uma baioneta e que ele queria furar o olho da rapaziada da primeira fila. Depois de mim entrou outro cara que tocava tão soft que a banda ficou cheia de músicas felizes. Mas isso é minha opinião pessoal, talvez minha época nem foi tão boa assim quanto eu imagino, afinal, quando eu saí da banda foi por ter um surto de síndrome de pânico horrível que não me permitia nem ir mais aos ensaios na Blue House, casa dos Skydivers na Carvoeira.

Bom, o que eu queria falar mesmo, era sobre a prisão do Frank num show que fizemos no Trópicos, nosso segundo lar, nossa sala de estar. A casa estava cheia, estávamos bem ensaiados, éramos a segunda banda da noite. Abrimos com a música Breathe, do Prodigy, e depois continuamos com músicas próprias. Na bateria, Cachorro mandava suas viradas típicas com o prato em atraso em espetaculares falsas quebras de tempo, Druba gritava no microfone “My friends are vampires!!!”, Marco aumentava o volume de sua guitarra a cada dez segundos numa competição imaginária enquanto eu tocava com palheta e tentava afastar os Cafonas no canto direito do palco. O tempo estava passando, nosso repertório era imenso, quase duas horas, porém, depois de quinze minutos tocando, Leopoldo, o baixista dos Cafonas já fazia sinal de que deveríamos acabar logo nossa apresentação porque talvez a polícia chegasse e botasse todo mundo pra correr, fazendo os Cafonas não terem tempo para seu show. Não me lembro qual era a tensão, talvez o alvará do Frank estava fodido... ou a polícia já tinha dado algum ultimato na barulheira por causa dos vizinhos... não sei. Só lembro que os Cafonas estavam na minha frente, com seus instrumentos engatilhados. Vieram lá do fim do inferno só para tocar e nós os agoniávamos. E eles a mim. Eu só dizia: “Péra só mais um pouquinho, acabamos de entrar.”

O Frank lá na frente vendia cerveja adoidado, caipirinha, Fogo Paulista... Até que a Civil chegou. Entraram de colete preto e mandaram parar tudo. Nós só paramos depois que acabou a música. Não iríamos parar no meio, né. Aí o Druba já saiu provocando, ficou dizendo no microfone: “Ai, noooofa, os Coletinhos Pretos acabaram de chegaaaarrr... Tenho medo dos Coletinhos pretos que vieram me prendeeeerrr... Me prende, seu Coletinho, me prende...” O clima no bar ficou tenso. Cachorro tirou o microfone do Druba e o Frank foi intimado a entrar no camburão, mas se recusou: “Eu sei onde fica a delegacia, eu já vou lá.” A polícia foi embora, o Frank se arrumou, deu um beijo na Andreza, e foi se apresentar. Recolhemos nossos instrumentos, o som acabou, virei o inimigo numero um dos Cafonas e decidi ir com meu irmão, Kabessa, e mais um monte de amigos, à delegacia, que ficava na Lagoa atrás do antigo correio. Da porta da delegacia dava pra ver o pobre Frank preso, sentado em uma cadeira, prestando depoimento. Nós nos aglomeramos ali na frente e ficamos gritando “ Free, Frank, free! Free, Frank, free! Free, Frank, free!” até um dos policiais se encher e nos mandar cair fora.

O Frank voltou e a alegria não veio junto. Mais uma vez o bar corria risco de fechar. A Lagoa da Conceição não estava preparada para um bar de rock. A vizinhança reacionária queria escolher que tipo de música se deve tocar nas redondezas. O rock parecia ameaçar suas vidas ridículas e o Frank tinha que pagar o pato. Que merda.

Escrito por Koostella
www.koostella.blogspot.com


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

BAIXO ADIDAS (parte 1)

Custou, mas finalmente tava tudo bem para o Leovegildo*. O show da banda dele no Trópicos (era começo de 1998, época do Carnaval) quase tinha sido desmarcado porque o baixista e o baterista tinham ido viajar, mas ele e Raul*, o outro guitarrista, acharam substitutos que toparam ensaiar a tempo. Antônio*, o baixista-estepe não tinha instrumento, mas eles descolaram um emprestado, todo preto com o escudo branco.

No dia do show, mais um monte de contratempos, inclusive briga com a namorada, mas acabou dando tudo certo. O show da banda dele, Apocalípticos Integrados*, rolou legal e os ânimos com a digníssima estavam acalmados. Tudo estava tão bem que, quando foram guardar os instrumentos no carro, estacionado ali perto, confraternizaram com algumas muralhas brancas. Esticaram nas costas do baixo, como se fosse uma pizza saindo do forno. Afinal de contas, aqueles eram os loucos anos 90.

Voltaram para o bar e foram interpelados pela banda que tocaria logo depois: “escuta, a gente viu que vocês têm um violão. Tem uma música nossa que fica mais legal no violão, como a gente gravou. Rola de emprestar?”, pediram. Claro que rolava. Leovegildo* emprestou a chave do carro para que Raul*, seu companheiro de banda, fosse buscar o violão e foi juntar-se à namorada para curtir a noite.

Quando terminou o show, Raul* pediu novamente a chave do carro, dessa vez para guardar o violão, Leovegildo* emprestou. Após uma espera mais longa do que o desejável, Peu*, o baterista-estepe daquela noite, chegou com más notícias.

- Deu merda .
- Como assim?
- Trancamos o carro com a chave dentro.

Puta que pariu. Leovegildo* pensou em todos os instrumentos e amplificadores guardados lá dentro, na encheção de saco que seria e em que diabos iriam fazer agora.

- E isso não é o pior.
- Como assim, não é o pior?
- Vem aqui ver.

Foram. Quando chegaram no carro, estacionado bem debaixo de um poste de iluminação, lá estava o baixo bem visível, deitado de costas para cima no banco do carona. Contra o corpo preto, como se fosse um anúncio surreal da Adidas, três listas brancas. Listas do tipo mais chave-de-cadeia.

- Tá, pessoal, tudo bem, se era pegadinha, funcionou. Tô encagaçado aqui.

Não era.

(continua)

* Os nomes foram alterados porque ninguém aqui é dedo-duro. Também não sejam nos comentários. A história foi enviada por um leitor gente fina; quem tiver alguma e estiver a fim de compartilhar e permanecer anônimo, é só mandar pra detropicosaounderground@gmail.com