terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O BAR DO VINHO: "o estilo do bar é esse"



- Vamos ali no bar do vinho?
- Bar do vinho? Onde é isso?
- É um que abriu há pouco tempo, rola um som legal. Fica ali uns 300 metros depois do boulevard.

Desconfiei do convite. O “som legal” a que o Nico se referia podia ser, de fato, um som dos mais legais, mas também podia ser sei lá o que ele estivesse escutando no momento. E esses bares mais afastados (300 metros era um longo afastamento na época em que a movimentação da Lagoa se concentrava MESMO no boulevard) quase sempre não davam nada.

Por outro lado, naquela noite a ação ali no boulevard não estava sendo das mais favoráveis para o nosso lado, nem no quesito musical, nem no feminino, nem, francamente, na diversão. OK, vamos no bar do vinho. Não lembro quem mais estava junto, mas devíamos estar em uns quatro ou cinco.

Quando chegamos lá, o Nico pediu uma cerveja (para meu alívio, confesso), sentamos numa mesinha e ficamos batendo papo. Tocava Pixies. Primeiro o Doolittle, depois o Bossanova. É claro que isso fez uma baita diferença (isso era 1996; não era fácil achar um lugar com um som de que gostássemos. Além de ser mais difícil, éramos todos mais chatos e pentelhos com isso) e acabamos ficando por lá a noite inteira. Voltamos mais algumas vezes depois.

Numa dessas voltas, descobri que boa parte do pessoal que tinha se dispersado com o fim da Casa do Rock, dois ou três anos antes, havia também descoberto o bar e se reagrupado ali. Acabou virando o lugar pra ir direto, sem nem olhar o que tinha nos outros. Com o tempo, fizemos amizade com o Franck e a Andreza e criamos confiança pra pedir que tocassem as fitinhas que levávamos.

Certa vez, a noite não estava das melhores: éramos três na única mesa ocupada. Mesmo assim compensava, porque estava tocando Echo and the Bunnymen (minha fitinha do Ocean Rain) e Sonic Youth. De repente, parecia que a noite do Franck estava salva: chegaram umas vinte pessoas duma vez só, vários casais interessados em se formar, aquela coisa com clima, animação e tal. Ocuparam quase toda a área de trás, mais perto da Lagoa.

Depois de uns dois minutos, enquanto chegava a primeira cerveja que tinham chamado, pediram que o Franck trocasse a música.
- Um sambinha, alguma coisa mais animada, sabe como é.
- Não, sinto muito. A música do bar é essa, o estilo do bar é esse.
- Mas estamos só nós aqui.
- Não, tem o pessoal naquela outra mesa. E mesmo que não estivessem, é esse o som que toca aqui.
- Tudo bem, a gente respeita, claro. Mas é que pô, numa boa, se continuar esse som a gente vai sair. Olha quanta cerveja vocês vão deixar de vender.
- Paciência. Se quiserem ficar, são bem-vindos, mas a música continua.

Continuou. E a turma, de fato, foi toda embora. Nós? Continuamos freqüentando. E éramos cada vez mais. Até que começamos a ter uma ideia. Quem sabe se, numa dessas, de repente, ali no cantinho, discretamente, talvez só acústico, rolasse de tocar uma banda? Será que dava?
(escrito por Fábio Bianchini)


3 comentários:

  1. Consigo imaginar o Franck bem tranquilo, explicando pros caras que não ia rolar o sambinha...

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  2. Franck sempre foi muito educado...mesmo quando eu, Domingos e Asdrubal ficavamos entrando no bar toda hora e querendo tirar um a fita do outro...eu com minhas fitinhas do Suede, Domingos com as do Neil Young e Asdrubal com...o que era mesmo que ele vivia querendo colocar?hahahaha!

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