quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SuperFuzz: noite de estreia 01/03/1997



Estava errado no outro post: o primeiro show foi agendado para o dia 22 de fevereiro, um sábado.

Foi assim: uma bela noite, chegamos mais cedo no bar e lá estava o Franck, todo suado, mas com a obra recém terminada e construída por ele mesmo: um prolongamento de madeira, coberto, que serviria de palco para as bandas. Para quem queria "só um cantinho onde pudéssemos fazer um negócio discreto", era um presentaço. Conversa daqui e dali, marcamos logo o show para aquela semana mesmo ou a seguinte, coisa assim: Salt Slake, Superbug e Sleepwalkers.

Quando chegou a grande noite, estávamos todos pimpões feito estrelas de Hollywood em noite de estreia. Não tinha tapete vermelho, mas tinha o visual da Lagoa e um monte de guitarras e amplificadores. Tínhamos também mais uma surpresa: não havia como cobrar ingresso, já que o bar era aberto, então a ideia era tocar só pela alegria mesmo, todos tínhamos concordado e ninguém sequer pensou em cachê. Franck achou pouco e fez questão de colocar um engradado de cerveja pras bandas. A divisão ficou ainda mais mole para o nosso lado porque os Sleepwalkers não bebiam. Ou seja, não faltava nada, né?

Quase nada. Faltou luz. Não só ali; todo o centrinho da Lagoa ficou às escuras por sei lá quanto tempo. Mas foi tempo o suficiente para esperarmos um pouco e ver se a energia voltava rápido, para o pessoal começar a ir embora e para desistirmos e adiarmos por uma semana o primeiro show. Ficou para o sábado seguinte, dia 1º de março.

Chegamos cedo para montar a aparelhagem, ficou decidido que a minha banda, o Salt Slake (escrito assim errado mesmo), abriria a noite. Depois viria o Superbug e, pra fechar, o Sleepwalkers. Rachamos as cervas entre as duas bandas e oferecemos pros amigos. O bar estava cheio , mas não lotado.
 Salt Slake: Eu , Marco Martins, Gustavo Dogo e Karina "Kim" Cizeski (fotos:Thanira Rates e Daniela Bianchini)

O nome Salt Slake foi tirado de um livro do Jack London. Ensaiávamos no restaurante do pai do Dogo e antes desse show só tinhamos tocado duas vezes na Ponta das Canas (no Norte da Ilha), com o seu Deja (pai do Dogo) levando toda aparelhagem, a banda e mais as namoradas na carroceria da Fiorino. Éramos uma banda tacanha, naquela época só a Kim tocava bem. Tocamos nossas músicas mais um cover de Sonic Youth, “Youth Against Fascism”, e "Trans Am", do Neil Young , a única que eu cantava.

Apesar de ter sido há muito tempo, lembro que o bar tava num astral excelente, pelo menos para mim, que tava tocando com duas das minhas bandas favoritas da cidade. Eu era um fã declarado das bandas da noite.
Superbug (Fábio "mutley" Bianchini, Rodrigo Alves, André e Diógenes Fischer (Fotos: Daniela Bianchini)


O Superbug tinha ajudado a salvar minha vida alguns anos antes. Em 94 fui “convidado a me retirar” do I.E.E e consequentemente de casa, fui para o “exílio” em Caxias do Sul, chegando lá o Bukowski morre, logo depois o Cobain se mata, não foi uma época boa...

Então que o Mutley me envia pelo correio a primeira demo do Superbug “take yer horse off the rain”. Cara, aquela fitinha trouxe tanto conforto! Tinha uma música “Tangerine Limousine” que me fazia pular dentro de casa. Fui salvo por aquelas músicas no forte inverno longe dos amigos! Sou grato até hoje ao Mutley por isso.

No show daquela noite no Trópicos eu já sabia cantar várias músicas dos caras, fiquei eufórico just like heaven total! Não tenho certeza, mas se não me engano eles fizeram uma versão demolidora de "Cum on Feel the Noise" do Slade.

Então veio o Sleepwalkers, melodias fofas e guitarra esporrenta. Acho que nessa época eles já tinham duas demos, nessa noite eles tocaram "In the Mouth a Desert" do Pavement! Alíás a Sabrina, baixista da banda, tinha mandado uma demo pros caras do pavement, e os caras responderam!! Mandaram um postal pra ela, elogiando o som. Era a banda favorita dela, certamente uma influência e os caras mandam um postal dizendo “Hey , grande estilo, boa música” deve ser o máximo que uma banda sem pretensão de sucesso pode querer.

Infelizmente, não tenho nenhum registro deles nessa noite e não lembro grandes detalhes do show. Só sei que foi ali o pontapé inicial para a “grande confraternização” que iria se tornar o bar do Franck. Bandas de Blumenau e Joinville começariam a vir tocar aqui com mais freqüência, tinhamos os mesmos gostos pela música, e estávamos nessa pela diversão, não existia cena, nunca forçamos a barra, era só um punhado de bandas que gostavam das mesmas coisas. E agora que o Franck tinha aberto espaço para nós, tudo ficaria mais intenso.Logo o bar começaria a lotar absurdamente e novas amizades seriam feitas. A vida tava boa pacas.

Texto de Fábio Bianchini e Domingos Longo

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